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A lagarta do tédio | por Carvalho Filho

                    
Reprodução: ‘Retrato do Doutor Gachet’ de Vincent Van Gogh 

Ao som de Since I Don’t Have You (dos Guns N’ Roses) me ponho diante de uma tela a meditar sobre algumas coisas mornas, por exemplo, este sentimento de andar em ritmo lentíssimo, como se eu estivesse prestes a parar. Veio a vontade amalucada de escrever, sabe- se lá sobre o quê, mas assim mesmo veio até mim. Passo a vista em um livro do Octavio Paz sobre a mesa, Signos em rotação. Imagino muito e pouco faço. Passo a faixa para outra canção, trata-se de In This Shirt (The Irrepressibles), o que faz a atmosfera mudar drasticamente. Eu me pergunto se seria melhor trocar a canção, não mudo, deixo a melancolia pesar a mão nos meus ouvidos. Eu me desligo de mim por alguns momentos para imaginar a vida de outras pessoas. É inevitável se defrontar com o tédio? Os problemas da vida não deixam a lagarta do tédio crescer. Ontem tive a felicidade de encontrar no chão uma linda mariposa: tinha asas grandes e uma coloração entre a noite e as cinzas de madeira. Eu olho meus livros com a certeza de encarar um tesouro. Indago-me sobre muitas questões, sobretudo sobre quem eu sou. Sinto-me compelido a ler algum poema, uma tradição há tempos preservada. Não muito distante Fernando Pessoa. Tenho receio de me perder em alguns versos temperados justamente pela expressão do tédio. Posso ler o Pessoa amanhã. Penso em Mário Faustino. Talvez venha a calhar. Não muito longe papeis e materiais para desenho. É outra possibilidade. Vou me alimentando de arte para que a lagarta do tédio não cresça.

Teresina
19-05-2023

Carvalho Filho, escritor e professor. Autor de "Onde Estão Meus Girassóis?" 
Instagram: @carvalho_maupassant



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