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Tempo de Infância | por Jailson Júnior


Foi-se o tempo em que eu podia bater bola com os amigos e fazer calos na sola do pé no 
asfalto quente, nos famosos rachas valendo uma coca-cola de dois litros. O time que perdia guardava os tijolos com galhos enfiados que, temporariamente, serviam de trave para nossa futebolesca fantasia de menino. Não havia amigo nem final de Libertadores que superasse a violência de um jogo valendo sacolé. Era um verdadeiro futebol irlandês. Era dedo sangrando, joelho ardendo, poeira voando tarde adentro. Havia tempo. Fiquei cada vez mais sem ele. Lembro que sempre fui o mais velho da turma, mas hoje os mais novos daquela época são bem maiores do que eu, quase que o dobro do meu tamanho.

Não vejo mais os meninos brincando de bola ou do que quer que seja na rua. O calçamento perdeu a vida das crianças para o tablet. Por vezes, eu matava a saudade dos meus tempos de moleque nos meninos que ainda perambulavam pela rua e onde eu me via sem vergonha. Foi um tempo bom. Não tínhamos na lista de preocupações sabermos Inglês ou termos um Iphone de última geração. Apetecia-nos o prazer vagabundo e simples que só a turma de amigos da nossa rua sabia proporcionar. Era tudo. Um juntava o troco do pão daqui, um real que a mãe de outro dava dali e juntávamos para comprar uma bola de couro.

Comentávamos à tardinha antes do futebol o último episódio de Dragonball Z que corríamos para casa para assistir depois da aula de português da tia Zenaide. Ríamos dos pedaços de verdura que jogávamos nos cabelos das meninas na hora do intervalo, dos pedaços de coxinha que pedíamos do colega que o dava de mau gosto. Lançávamos ao chão nossas beybaldes douradas arrancadoras de reboco. Largávamos e íamos para o futebol de rua.

Nosso Youtube eram as lendas de fantasma que contávamos, com o suor e a terra se misturando na pele tampando até os poros da nossa alma, na boquinha da noite. Nosso Facebook era o culumim que andava todas as ruas do bairro e sabia de tudo. Nosso Instagram era a menina que a gente gostava quando se sentava na cadeira da frente para que a gente as olhasse e as desejasse. Nosso Tinder era o amigo que “ajeitava os papos”. Nosso WhatsApp era o melhor amigo bater no portão para a gente ir conversar sentados na calçada. O contato era mais humano.

Essa fantasia infantil perambulava as ruas e povoava as noites até nossas mães irem nos procurar e nos botar para dentro porque já tava na hora de ir se aquietar. No outro dia, seria de novo do mesmo jeito, à sua maneira, mas com a mesma visceralidade meninesca de sempre. 

*Jailson S. S. Júnior, 20 anos, acadêmico de Direito, poeta e escritor. Atualmente publica seus textos no Piagui Culturalista, Chavalzada. 







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