Tela pintada pelo artista cearense Ruy Relbquy Silva - Foto: Honório Barbosa |
O artista plástico Ruy Relbquy Silva, 30 anos, tem uma história de superação e revela uma vontade imensa de viver. Ele é cadeirante, portador de uma doença degenerativa e progressiva – distrofia muscular. Em vez das mãos, a boca segura os pincéis que colorem diversas telas que ele faz em casa, na localidade de Riacho do Meio, zona rural de Quixelô, no interior do Ceará. O artista plástico alimenta o sonho de conseguir voltar a pintar com as mãos em vez da boca.
Autodidata, ele já pintava desde adolescente, mas em 2013 o avanço da doença o impediu de segurar o pincel com as mãos. O jeito foi adaptar-se. Passou a usar a boca para segurar os pinceis finos e definir os detalhes das telas que retratam o cotidiano do sertão. Graças ao tratamento especializado de fisioterapia e a medicamentos, médicos dão esperança de que um dia ele possa voltar a usar as mãos para se expressar artisticamente.
A doença que lhe acometeu é hereditária. “Com dois anos, ele tinha dificuldade de ficar em pé, andar”, relembra a mãe, Raimunda Lucinete da Silva, dedicada ao filho, apoiadora e até ‘crítica’ das pinturas. “Dou opinião, faço sugestões”, revela. A mãe é a ajudante número um. Posiciona a tela sobre caixas e afasta a cadeira na medida certa, coloca as tintas e pinceis sobre a bandeja. Está sempre por perto. “É um verdadeiro artista”, ressalta, orgulhosa.
Mesmo com dificuldades, Ruy andava sozinho até os 15 anos. Agora, depende de uma cadeira de rodas para se locomover. Os problemas de saúde nunca o deixaram se abater. Depois de um período de afastamento da escola por ansiedade, concluiu o ensino básico e está cursando faculdade de História, por meio de uma modalidade semipresencial. “Sempre gostei de ler, escrever”, disse.
Descoberta da vocação
A arte de pintar, aprendeu sozinho. “Devido ao meu problema de saúde, fiquei em casa, um tempo, quando era adolescente, e uma prima minha trouxe lápis de cor de São Paulo e me presenteou”, conta. “Comecei a pintar e fui tomando gosto”.
Ruy Relbquy Silva — Foto: Honório Barbosa |
Depois, Ruy aprendeu sozinho a pintar telas, usar tinta de tecido e a óleo. Já são 15 anos dedicados à pintura. Nesse período, já foram feitos mais de cem quadros. Muitos estão espalhados pelo Brasil, e um deles foi levado para o exterior. O artista não pinta para ficar famoso, mas sim pela valorização da arte.
Sempre que possível, ele participa de editais e de mostra de artes plásticas, enviando quadros para outros estados. Já concorreu em mostra do Sesc, em Brasília, Piracicaba e São Paulo; e na Bienal Internacional de Arte Naif ‘Totem Cor-Ação 2017’, em Socorro (SP). A peça inscrita recebeu prêmio de menção honrosa.
Ruy não tira da arte o seu sustento, mas é por meio da produção artística que ele encontra uma forma de ver o mundo, e de viver e revelar o talento que a vida lhe deu. ‘Preso’ a uma cadeira de rodas, encontra inspiração na história de vida de sua gente, no sertão cearense. Incentivado por muitos, teve sua primeira exposição no Centro Cultural de Quixelô em 2016.
Refúgio na arte
Por não ter controle com as mãos e por sentir peso e cansaço nos braços e nos ombros, tornou-se hábil com a boca. “Cansa menos, já estou acostumado. Com as mãos faço alguma coisa, mas os detalhes pinto com a boca”, disse. “Estou esperançoso de voltar a usar a mão”.
“Estou me esforçando, seguro o pincel com as duas mãos”, diz ele. “A minha esperança é de uma recuperação, mas sei que a doença é progressiva”. As dificuldades fizeram com que o artista diminuísse a produção de seus quadros nos últimos anos. “Enquanto puder, quero trabalhar”, frisa. “A arte me completa, é o meu refúgio, saio dos problemas e expresso o que estou sentindo”.
O atelier está instalado no primeiro cômodo da casa. É o espaço mais arejado, ao lado da sala de visitas e que tem uma ampla visão externa para o sertão e a serra do Franco, que separa Quixelô de Orós, no lado Leste. Nas paredes, há pinturas espalhadas. “Aqui em casa tenho uma exposição permanente”, disse.
O artista reaproveita sobras de madeiras e peças de móveis para fazer as esquadrias de suas telas. “Foi uma forma que achei de realizar também um trabalho diferenciado. E temos que reaproveitar tudo, reciclar”, disse. “O homem está destruindo a natureza, faz queimadas, desmatamento, joga lixo e esgoto nos rios, açudes e lagoas. Isso é muito triste, lamentável”.
A precisão dos traços e a inspiração na paisagem da Caatinga despertam a atenção de quem conhece a produção artística de Ruy Relbquy. “Ele aprendeu sozinho e revela noção de perspectiva, sombra, tem traços bem delineados”, observou o secretário de Cultura do município, Ailton Fernandes. Esforço, vontade de vencer, de superar os obstáculos que a vida lhe impõe e talento fazem de Ruy Relbquy um exemplo de superação e de amor à vida.
Fonte: G1/CE
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