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Chavalzada entrevista o escritor Jailson Jr.

Hoje vamos conversar com o escritor Jailson Jr. O entrevistado já nos brindou com belas crônicas e poesias. Confira sua coluna no CH AQUI


Jailson Santos Sousa Júnior, 20 anos, acadêmico de Direito, poeta e escritor. Atualmente publica seus textos no Piagui Culturalista, Chavalzada e um Blog Pessoal. É colaborador de VERSANIA – Coletânea Poética. 

Confira a entrevista.

Chavalzada - Primeiramente, me fale um pouco sobre você. Quem é Jailson Júnior?

Jailson Jr.  - O Jailson que vos fala é um nortista nato e que absorveu muita coisa em duas décadas de vida. Procuro ser simples e passo despercebido em quase todo lugar onde vou. Prefiro assim. Passo a maior parte do tempo lendo, pensando e escrevendo. Não poucas críticas ouço de que eu não aproveito a vida ou coisas do tipo, mas procuro aproveitar do meu jeito. Devemos viver o nosso tempo, não o dos outros. Creio que é mais ou menos isso, para início de prosa (risos).

CH – Você é natural do Estado do Amapá, certo? Já se adaptou ao Piauí?

Jailson Jr.  - Sim. Sou nascido no estado do Amapá, um estado ainda desconhecido do resto do Brasil, principalmente por ser trancafiado no extremo Norte do país. Muitos com quem converso o confundem com o Acre ou Roraima (risos). Sobre o Piauí, são calores dos quais já sou acostumado. Morei aqui alguns anos atrás, fui para o Amapá e retornei. No começo foi difícil, mas hoje o Piauí é minha segunda casa e tenho muito orgulho da terra onde vivo. O Piauí é uma terra abençoada, tenho certeza. 

CH – Você atualmente cursa Direito, correto? Como é um poeta entre as leis? (Risos)

Jailson Jr.  - Correto, rs. O poeta basicamente é guiado pelas emoções, mesmo em se tratando de temas cotidianos. Por vezes, a rigidez e a austeridade típicas da prática jurídica confrontam com o lado sensitivo do fazer poético. O Direito é uma ciência linda por excelência, e como no mundo temos que ser camaleões diários, é necessário saber fazer conviver bem o operador do Direito e o poeta. Um dia aprendo a fazer isso.

CH – Quando e como você começou a escrever?

Jailson Jr.  - De início, eu criava pequenas fábulas em folhas de caderno, colava umas nas outras e dizia que tinha escrito um livro. Combinava naquele tempo a fantasia inata às crianças e o início do fazer poético. Sempre gostei de escrever. Fazia historietas, mentalizava muitas outras, rabiscava. Sempre fui inquieto com a escrita. Meu primeiro poema fiz aos doze anos. Era um poema sobre a natureza, pelo que ainda me resta de memória dele. Não o tenho mais. Foi o primeiro poema da sequência que perdura ate hoje, até onde e quando Ele achar que deve ir. 

CH - Você sente mais emoção ao escrever qual gênero (poesia, conto, romance etc.)?

Jailson Jr.  - Não digo que a emoção seja maior. Cada gênero é uma descoberta, seja de uma visão do autor das entrelinhas do cotidiano ou sobre ele mesmo enquanto agente partícipe de uma conjuntura maior. Creio que me expresso melhor pela poesia, pelo menos por agora. Os versos, pela sua montagem e formato, permitem flashs e tiros de cenas que enriquecem a cena proposta pelo poeta. Pretendo singrar mais pelos outros gêneros, sem restrição a apenas um. Por hora, tenho uma relação de concubinato com a poesia. 

CH - Quais são suas principais influências na literatura?

Jailson Jr.  - Pergunta difícil, rs. Toda influência se exerce de modo diferente sobre nós. Pelo conjunto da obra e pela análise psicológica contida, o Machado de Assis é meu principal forte poético e prosaico, além de Vinícius de Moraes, o poetinha, Fernando Pessoa e Guimarães Rosa. Há outros mais, mas os principais são esses. 

CH - Você escreve para vender ou para satisfazer seus desejos de autor?

Jailson Jr.  - Viver de literatura e de arte como um todo no nosso país ainda é difícil. Nosso povo está se tornando mais consumidor de literatura agora. É privilégio de poucos ainda. Escrevo mais para materializar minha humilde obra, torná-la pública e acessível, desabafar sentimentos. Tenho certeza que o fazer poético fará parte de mim até o final da vida, e mesmo que eu não venha a viver exclusivamente da literatura (nem pretendo, aliás), deixar um legado para a posteridade já será um bom pagamento. 

CH - Como você organiza seu processo criativo: decide o que vai ser escrito e por onde começar e quais serão as fases?

Jailson Jr.  - Não organizo minha produção em etapas especificas. Isso me sufoca. A vida já é entrelaçada a diversas rotinas e regramentos, geralmente em coisas sob as quais temos pouco ou nenhum controle. Como a produção poética é algo que, em linhas gerais, é única e exclusivamente guiado pelo autor, procuro fazer dela um palco de liberdade. Onde a inspiração surge, é ali. No ônibus, na sala de aula ou no quarto. Sempre porto um bloco e uma caneta no bolso, para não deixar perder o momento. Vou escrevendo e escrevendo e de repente a obra ganha corpo e se materializa.

CH – Você é um dos autores do Livro Versania. Fale um pouco sobre esse trabalho...

Jailson Jr.  - Versania é um projeto maravilhoso encabeçado pelo Piagui na pessoa do poeta e amigo Claucio Ciarlini. Foi e é uma honra ser um versaniano, fazendo parte dessa coletânea que já está nos anais da história de nossa cidade e que poderá ser acessado a todos que percorrerem as páginas da história do jornal. Há incluso lá células poemáticas que eu já tinha arquivado. Poemas escolhidos a dedo. Ver nossa obra materializada e parte de um projeto que é até hoje maciçamente elogiado é de uma emoção tamanha. Coisa de pais e filho. 

CH – Você publica textos no Jornal O Piagui Culturalista, certo? Me fale como você conseguiu chegar a este jornal?

Jailson Jr.  - Sim, publico meus textos no Piagüi desde Setembro de 2016. Conheci o projeto pela Erika, na época minha professora, hoje esposa do Daniel, primo do Claucio. De lá para o meu poema nas páginas do jornal foi um pulo. Logo a edição saiu. Não pude segurar a emoção. A gratidão será eterna. 

CH - Quais suas metas? Algum projeto literário em andamento?

Jailson Jr.  - Metas a curto prazo, só mesmo manter a produção que já tenho e aprender mais com a experiência. Tenho planos de uma publicação inicial, nada muito distante, mas ainda é bem embrionária a ideia, algo que a experiência e o tempo irão maturar. Ainda tem as obras do acaso que sempre surgem. 

CH- O que uma crítica literária significa para o seu trabalho?

Jailson Jr.  - Depende muito de quem venha e com qual intento. Uma crítica construtiva é sempre necessária, precisamos delas para aprender e evoluir sob à luz dos mais experientes. Sempre me dei bem com críticas, desde que tragam algo bom. As maldosas, a gente deixa entrar por um ouvido e sair pelo outro. Como diria pessoa: “o poeta é um fingidor” e para certas coisas a gente precisa saber fingir amnésia ou surdez (risos).

CH - Sua literatura aborda temas nacionais, culturais, raciais, e grita pela desigualdade, ou apenas segue passivo sem se intrometer nestes assuntos?

Jailson Jr.  - Sempre camuflo os temas sociais dentro das produções, apesar de ainda ter vontade de nadar mais a fundo nessas áreas. Muitos poetas ao longo da história usaram sua obra para fazer alertas e gritar à sua maneira pelas causas sociais. Vale ressaltar Castro Alves, poeta dos escravos, que tanto lutou pelo movimento abolicionista no nosso país e seus poemas produzidos para serem cantados acompanhados de atabaques. Um gênio da poesia, com certeza. Isso só para citar um. No país em que vivemos, principalmente nesse momento, precisamos nos engajar nas causas sociais, para que deixemos um lugar melhor para nossos descendentes. 

CH - Brasileiros leem em média 4 livros por ano. O que um escritor pensa sobre isso?

Jailson Jr.  - Que ainda temos muito a percorrer. O Brasil é um país que está lendo mais agora. Até 30, 40 anos atrás, ainda éramos majoritariamente de maioria rural e analfabeta, de pouquíssimo acesso a literatura e a informação como um todo. Vejo essa evolução com olhar esperançoso, de que podemos ir bem mais longe e transformar a leitura em um hábito arraigado e traço cultural de fato. As pessoas estão lendo e aprendendo mais, entrando mais na Universidade e confluindo mais pelo campo das ideias. Estamos saindo da caverna, e até esse momento de instabilidade que vivemos é parte desse choque, de clarear o que ficou escondido da maioria por séculos. 

CH – Como você avalia o mercado editorial brasileiro atualmente?

Jailson Jr.  - De bons nomes, mas carente de referências grandes. Não que não existam, é que são poucas e até esses preferem a reclusão. 

CH – Pelo tempo que viveu no Amapá foi possível compreender a literatura da sua cidade natal (Santana)? Há condições de fazer algum elo com a literatura parnaibana ?

Jailson Jr.  - Pouco, mas deu. Santana é uma cidade recente, pouco mais de duas décadas. Antes, era um distrito de Macapá, até ser desmembrada e virar município no período da redemocratização do país no pós-ditadura. O estado como um todo ainda é carente de uma literatura local e de nomes e de peso nacionais. Nem uma Academia Estadual de Letras não há ainda, mas creio que isso possa mudar com o tempo e a proatividade de alguns. Creio que esse elo possa ser feito sim. São cidades históricas, portuárias, de muitas histórias e de modus vivendi parecido. Quando se tem visão e vontade, pode-se unir as duas pontas de qualquer coisa nesse mundo. 

CH - Considerações finais...

Jailson Jr.  - A poesia é um caminho sem volta, um Pegasus interior de cada um. O poeta é um herói e um vilão, ama e odeia e mata e morre diariamente. No outro dia estamos lá de pé, prontos para mais uma. Na escrita, estou vivo, o sangue e as emoções jorram diferentes. Cada produção é um parto, uma maturação. É algo inexplicável. Todos são poetas, mas só alguns tresloucados acabam acreditando nisso de fato (risos). Certa vez, ouvi de uma amiga que alguém disse a ela que nunca namorasse um poeta, porque somos viscerais demais. Uma injustiça conosco. A vida passa e o tempo voa, mas eternizamos pessoas e momentos nesse meio tempo. Há quem acredite que um poeta é um ser triste e alheio a quase tudo. Nem sempre é assim. Mais do que isso, viver é, no fim, algo doce e passageiro.









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