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Chavalzada entrevista o escritor Carvalho Filho


O Portal Chavalzada entrevistou o escritor Carvalho Filho. CARVALHO FILHO é a assinatura literária de Francisco das Chagas Souza Carvalho Filho, nascido no ano de 1988 em Parnaíba-Piauí. O autor compõe diferentes gêneros, passando por poemas, contos, crônicas, novelas, romances etc. Participou das coletâneas a seguir: Versania (2017), Carnavalhame (2017), Tratado Oculto do Horror (2016) e Papo Literário (2011). Tem textos publicados na plataforma Escrever sem fronteiras, do Sesc. É colaborador do jornal O Piagüí Culturalista e tem participado sempre que pode de eventos literários em sua cidade natal.

Confira a entrevista: 

Chavalzada – Primeiramente, me fale um pouco sobre você. Quem é Carvalho Filho?

Carvalho Filho - Tarefa de Narciso, mas vamos lá. Sou um sujeito pacato que descobriu na literatura um modo de expor-se, de apreender a vida de alguma forma. É o que me vem à cabeça por ora.

CH – Me fale sobre sua formação?

Carvalho - Sou formado em Letras, com graduação, especialização e mestrado dentro da área. Na graduação estudei as origens da Literatura de Horror, e na especialização o livro Opus Generalis, de Marcelo Nascimento, no mestrado voltei-me para o poeta Ovídio Saraiva. Apesar da aparente disparidade, nos três trabalhos tive a oportunidade de em algum momento tratar de algo que muito desperta meu interesse, o mito. Ao lado do poeta e contista, tenho convivido com o acadêmico, inclusive, tenho artigos publicados sobre os poetas Ovídio Saraiva e Félix Pacheco, assinei uma coluna no jornal O Piaguí na qual escrevi sobre a ficção de horror durante algum tempo. 

CH – Quando e como você começou a escrever?

Carvalho - Comecei a escrever por volta dos catorze anos. Como já disse em outra oportunidade, um poema bem sentimental, mais emoção do que razão. Tratava-se de um poema de amor, singelo e franco. Quanto a como comecei a escrever, creio que devido minha infância e adolescência marcadas pela timidez, acabei por descobrir algo em que eu pudesse expressar melhor minhas emoções, pensamentos e posicionamento diante da vida. De um poema de amor, logo enveredei por outros temas. Muita coisa conspirava para minha escrita: as canções de Renato Russo, Cazuza e Raul Seixas, a leitura de poetas como Camões, Bocage, Álvares de Azevedo, Augusto dos Anjos, Drummond, Florbela Espanca, a mitologia, grega e romana, principalmente. Rock, poesia e mitologia foi o chão do qual começou a germinar minha escrita.

CH – Você sente mais emoção ao escrever qual gênero (poesia, conto, romance etc.)?

Carvalho - Não diria que sinto mais emoção, e sim que tenho mais prazer com a poesia. Caso você me pedisse uma lista de alguns escritores que mais admiro, com certeza a maioria deles seria poeta. Não sei explicar bem, mas para mim a poesia é uma bebida que não nos mata a sede. Pois podemos bebê-la o resto da vida. Um grande poema, como Poema em linha reta, do Pessoa, é como aquela canção que não cansamos de ouvir. Queremos que a sensação de deleite, choque, fascínio etc., se repita. 

CH – Quais são suas principais influências na literatura?

Carvalho - Uma questão sempre complicada de responder, pois nossas leituras vão mudando com o passar do tempo. Das leituras mais antigas, certamente devem constar os nomes de Álvares de Azevedo, Augusto dos Anjos e Edgar Allan Poe. Daquilo que venho lendo nos últimos anos, destaco o Samuel Rawet e Ambrose Bierce. Atualmente retomei a leitura de Fernando Pessoa. Embora não seja literatura em sentido estrito, não poderia deixar de citar Nietzsche. Nos últimos anos tenho me debruçado sobre obras do Rubem Alves, outro que eu não poderia esquecer. Quando penso em influência penso em aprendizagem, naquilo que podemos aprender com a leitura dos mestres e no diálogo possível com seus escritos. Há fontes maravilhosas das quais podemos beber sem perder, é claro, nossa própria identidade. 

CH – Se dedica exclusivamente à literatura ou tem outra profissão?

Carvalho - Para ser sincero, acho estranho aplicar o termo profissão à literatura. Não me soa muito bem. Mas exerço sim uma atividade da qual retiro alguma renda. Sou professor. Meu ideal, porém, seria a dedicação plena à literatura. Não apenas meu, acredito que da maioria dos escritores. 

CH – Você escreve para vender ou para satisfazer seus desejos de autor?

Carvalho - Não diria desejo, mas uma necessidade mesmo. Não me imagino sem escrever. Quanto à venda, vivemos em um mundo em que é o dinheiro que faz girar a roda, é uma questão de sobrevivência, porém, coloco minha arte em primeiro plano. A venda é uma consequência da produção. Ainda estou na maturação de um livro solo, e espero que ao ser lançado, ele encontre leitores dispostos a comprá-lo. 

CH – Como você organiza seu processo criativo: decide o que vai ser escrito e por onde começar e quais serão as fases?

Carvalho - Meu processo, como posso dizer? Varia. Às vezes acontece de surgir a ideia para um conto, nesse caso posso esquematizar algo como o enredo, personagens e desfecho na minha cabeça. O trabalho consiste em desenvolver o texto propriamente dito. Quando se trata de um poema escrevo logo para não o perder, depois leio novamente para descobrir se necessita de alguma mudança. Dependendo do resultado me demoro ou não sobre o mesmo poema. Se for um soneto muda tudo. O soneto requer mais disciplina, não conheço caso de soneto que é escrito por acidente. Como já afirmei, varia. Eu não tenho um determinado processo ou método.

CH – Você é coautor de dois trabalhos literários: Versania e Tratado Oculto do Horror. Fale um pouco sobre esses trabalhos.

Carvalho - Versania é uma coletânea de poemas organizada pelo poeta e professor Claucio Ciarlini. Ela conta com autores naturais de Parnaíba e outros radicados na cidade, foi lançada em 2017. Nela há uma diversidade de poetas, cada qual com seu jeito de poetar. Sinto-me agraciado por fazer parte desse grupo. Tratado Oculto do Horror se trata de uma coletânea de contos que versam sobre o sobrenatural, o suspense e o terror/horror, lançada em 2016 pela Andross Editora. Foi uma honra compor essa obra ao lado de escritores de vários cantos do Brasil. É um livro marcado pela multiplicidade de temas e estilos. Essas obras permitiram-me divulgar tanto meu lado poeta quanto meu lado contista. 

CH – Quais suas metas? Algum projeto literário em andamento?

Carvalho - A primeira delas é a publicação de um livro solo de poemas que venho organizando faz algum tempo. Há também um de contos. Sempre tenho algo em vista.

CH – O que uma crítica literária significa para o seu trabalho?

Carvalho - Toda manifestação dessa ordem a respeito da minha literatura é válida, desde que fundamentada. Pois significa que alguém se dispôs a não apenas ler, mas escrever sobre algo de minha autoria. Se não houvesse despertado a atenção desse tipo de leitor, essa pessoa não reservaria parte de seu tempo para produzir uma crítica. O autor deve ter ciência de que uma vez publicado seu texto, ele estará sujeito ao mais variado público. Críticas bem construídas, positivas ou negativas, são uma oportunidade para o autor perceber o olhar do outro, entrar em contato com outra sensibilidade, além de ser um momento oportuno para aparar certos galhos de sua árvore literária ou atentar para questões apontadas na crítica. 

CH – Sua literatura aborda temas nacionais, culturais, raciais, e grita pela desigualdade, ou apenas segue passiva sem se intrometer nestes assuntos?

Carvalho - Minha literatura aborda o ser humano. O próprio ato de se fazer literatura já é um grande grito diante do absurdo da vida. Cada escritor tem a liberdade de escolher o tema que melhor lhe couber. Esse “segue passiva” me incomoda um pouco, é como se a arte tivesse uma determinada obrigação a ser cumprida, sob pena de ser desacreditada. Certas sutilezas, trabalhando à surdina, são capazes de impactar um leitor a tal ponto que ele desperta dessa anestesia generalizada e passa a refletir sobre seu lugar na sociedade. Mas respeito plenamente quem prefira dizer de forma mais direta. É questão de escolha. 

CH – Brasileiros leem em média 4 livros por ano. O que um escritor pensa sobre isso?

Carvalho - Que o nosso país tem muito a aprender e melhorar. Isso não se reflete apenas na leitura, mas na arte de um modo geral, no interesse do brasileiro por obras artísticas. Sei bem que não se pode culpar apenas as pessoas, vivemos em um país terrivelmente injusto em vários sentidos. Há problemas gravíssimos neste gigante de pés de barro que habitamos, e precisamos trocar esses pés por algo mais resistente.









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