Remédios muito utilizados contra dores e inflamações e que podem ser comprados sem a necessidade de receita médica podem aumentar o risco de ataque cardíaco. O mais novo estudo alertando para esse efeito adverso mostra que o diclofenaco e o ibuprofeno elevam o risco de quem usa as pílulas sofrer uma parada cardíaca em 51% e 31%, respectivamente.
Os resultados corroboram outras pesquisas que há anos associam o uso de anti-inflamatórios não esteroides --conhecidos como Aines-- com maior chance de infarto.
O aumento do risco é grave para aqueles que já têm alguma doença cardiovascular, como hipertensão. No Brasil, as bulas desses remédios já alertam para a necessidade de cuidados e acompanhamento médico para esses pacientes ao ingerirem os medicamentos (veja abaixo), além de restringirem a quantidade.
Os pesquisadores chamam a atenção para o fato de esses remédios ficarem expostos nas prateleiras e balcões das farmácias, podendo ser adquiridos sem orientação médica nenhuma. Em alguns países, as pílulas chegam a ser vendidas em supermercados e postos de gasolina.
"Permitir que esses medicamentos sejam adquiridos sem receita médica e sem qualquer conselho ou restrição envia uma mensagem ao público de que eles são seguros", afirma Gunnar Gislason, professor da Universidade de Copenhague e coautor do estudo, em uma nota da Sociedade Europeia de Cardiologia.
Em setembro do ano passado, um estudo no British Medical Journal já alertava sobre o aumento do risco de insuficiência cardíaca a que os Aines estavam associados.
Nosso estudo reforça a evidência de efeitos cardiovasculares adversos dos Aines e confirma que eles devem ser levados a sério e usados apenas após a consulta de profissional de saúde."
No caso do ibuprofeno, o limite máximo que garantiria um uso seguro é de 1.200 mg por dia, diz o estudo.
A explicação para esse efeito colateral causado pelos Aine estaria na agregação das plaquetas no sangue. Esse efeito dos remédios pode levar à formação de coágulos, além de estreitar as artérias e aumentar a retenção de líquidos e a pressão arterial.
Pesquisa feita com pessoas que sofreram infarto
Para avaliar a associação do ibuprofeno e do diclofenaco a problemas cardíacos, os pesquisadores dinamarqueses estudaram dados de pessoas que sofreram infarto na Dinamarca entre os anos de 2001 e 2010. Cerca de 29 mil casos ocorreram fora do hospital. Dentre eles, 3,3 mil vítimas tinham tomado algum anti-inflamatório não esteroide ao menos 30 dias antes da ocorrência do problema.
O estudo mostrou que o ibuprofeno, tomado por 51% dos que usaram algum tipo de Aine, elevou o risco de parada cardíaca em 31%. O mais perigoso, o diclofenaco, que elevou o risco em 51%, foi ingerido por 22% dos pacientes.
O naproxeno seria o Aine mais seguro quando ingerido em doses de até 500 mg.
O que dizem as bulas dos remédios no Brasil
Nas bulas do ibuprofeno e diclofenaco vendidos no Brasil há o alerta de que os medicamentos devem ser administrados com cautela a pacientes com histórico de problemas cardíacos.
A bula do ibuprofeno informa que a dose mais alta, de 2.400 mg por dia (o equivalente a quatro comprimidos de 600 mg de seis em seis horas), "pode estar associada a um pequeno aumento do risco de eventos trombóticos (trombose) com infarto do miocárdio ou derrame".
De acordo com o fabricante, não há risco na ingestão de menos de 1.200 mg por dia (ou dois comprimidos de 600 mg a cada 12 horas).
Já na bula do diclofenaco, a fabricante diz que o medicamento não é recomendado para quem tem doenças cardiovasculares, como "pressão arterial alta não controlada, insuficiência cardíaca congestiva, doença isquêmica cardíaca ou doença arterial periférica".
A bula informa que o tratamento de pessoas de risco com o remédio deve ser feito com acompanhamento médico. Os remédios estão disponíveis em gotas ou em comprimidos com dosagens que variam de 50 mg a 600 mg.
No Brasil, não há necessidade de prescrição médica para a compra de anti-inflamatórios não esteroides.
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que regulamenta a venda de medicamentos, foi procurada pelo UOL para se posicionar sobre o estudo, mas não respondeu até o momento da publicação desta reportagem.
Informações do UOL, link
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