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Artigo | O carnaval dos desempregados - Pádua Marques.

Estamos cansados de saber que no Brasil poucas são as coisas e situações levadas a serio. Um país com treze milhões de desempregados que se dá ao luxo de parar cinco dias por pura brincadeira não pode em nenhuma hipótese ser levado a sério. Um país que tem um dos maiores índices de pobreza e desigualdade social e que se dá ao deboche de investir milhões e milhões de sua moeda numa carnavalada ao que se imagina só deve estar nadando em dinheiro.

Um país que está passando por um dos seus piores momentos de crise institucional com ministros, governadores, prefeitos, secretários, empresários, funcionários públicos graduados e outros mais envolvidos em corrupção e para pra celebrar um carnaval por cinco ou mais dias, não pode ser de maneira nenhuma ser tido como sério. Mas se a gente vai falar isso nas rodas de conversa logo recebe o título de chato, reacionário, sem graça, está revoltado porque seu foi derrotado nas últimas eleições. Somente porque discorda dessa presepada toda.

Temos visto que por esse Brasil existem centenas e centenas de prefeituras que estão neste exato momento ignorando a crise e mergulhando as finanças numa brincadeira sem nenhum sentido de retorno. Porque pra muitos prefeitos o povo gosta mesmo é de festa. Sob o pretexto de serem populares, os executivos municipais se danam a gastar aquilo que não possuem e não tem certeza de que vão arrecadar o suficiente. Onde já se viu muitas e muitas prefeituras sem as mínimas condições que justifiquem criarem pastas sofisticadas tipo secretarias de cultura e mais ainda de turismo? 

Não é o caso de Parnaíba, que tem histórico nesse sentido. Sendo mais direto, sempre teve panos pras mangas. Certos municípios criam essas secretarias e as entregam pra pessoas sem o mínimo de conhecimento com o que estão ou vão trabalhar. Secretarias que não trazem em quatro anos de atividades nenhum retorno pra administração municipal porque são ou serão geridas por pessoas ignorantes com essas atividades. Aqui mesmo na região norte do Piauí nós temos uns dez casos.






Mas voltando pra o carnaval, vemos que é muita e muita falta de responsabilidade de prefeitos investirem neste período milhões de reais em festas com bandas caríssimas e até outro dia, logo que tomaram posse em janeiro, era uma choradeira de fazer dó. Até outro dia os auxiliares, secretários disso e daquilo não paravam de reclamar que haviam encontrado suas pastas numa petição de miséria. E assim de uma hora pra outra aparece dinheiro no rodo pra se gastar contratando bandas e mais bandas. 


Impossível acreditar que num país com treze milhões de desempregados, hospitais e postos de saúde fechados, estradas esburacadas, iluminação precária, transporte público sucateado, enfim, uma série de dificuldades de deixar qualquer administrador de empresas na iniciativa privada com a mão na cabeça e os prefeitinhos de periferia queimando dinheiro com festas de carnaval. Essa é apenas a primeira e a mais esperada delas. Depois, pelo menos aqui no Nordeste, vem Santo Antonio, São João e São Pedro. 

Aqui e acolá um festejo de santo padroeiro. Uma pontinha de recursos da prefeitura pra satisfazer um colega, um time de futebol, uma igreja, campeonato disso e mais daquilo. As câmaras legislativas estão cheias de vícios e de roubalheiras com vereadores praticamente vitalícios, empregando a mulher, a amante, a filha, o genro, os compadres, os colegas desocupados do filho vagabundo. Aí quando passa o carnaval todo mundo corre pra cima das funções e execuções fingindo que está trabalhando. Desse jeito não em jeito.

*Pádua Marques - Escritor e Jornalista


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