Sentei. Ajeitei o cabelo negro e curto, curti as paixões de longe, comprimi o passo e o sentimento, romantizei. Mais a frente, um acidente entre um carro e uma moto, suficiente para arrancar as pessoas do ônibus da rotina morta e acostumada e enredar assuntos para dali a pouco, com café e cadeiras na porta. Permiti-me, na curiosidade do momento, ir até a janela e ver o ocorrido, tema de assunto e risos, no humor ironicamente mórbido com que, muitas vezes, as pessoas tratam assuntos sérios, quando não se tratam dos seus. Quando não envolvem nossos lençóis e sangue, podemos conjecturar um litro de coisas e julgar sórdida e descompromissadamente, na mão.
Permaneci sentado e me mantive no foco das metáforas de um autor qualquer, sempre portava essas distrações multicromáticas no bolso ou na mão. Todos desceram para ver. Eu fiquei, na companhia distante e desconhecida de uma moça que sentava mais na frente. Olhei para os traços no papel, alvo e filosófico. Ri. Lembrei dela. Nada mais. O vento batia quente. Tarde cansada, em vista do amor distante, amena, menos mal.
Tudo isso talvez deva ter durado uns 40 segundos, no máximo. Eu estava sem relógio. Depois do espetáculo comum, todos voltaram. Sentaram, nada aconteceu. O assombro deu lugar à velha sensação de impotência naquela legião de desconhecidos. Foi tema de algum assunto paralelo e comparações ralas, logo se perdendo ao revolto das rodas, ficando para trás igual à metade do mundo. Continuei. Segui com eles, alheio, imerso em mim mesmo. Um deles perdeu o pé no dito acidente, o que eu soube também por acidente. Inevitável. Ou não.
Perdi uma terça de piada negra, dessas de dar asco. Talvez, um dia, eu largue em uma calçada qualquer o vício de uma crítica lavada e feroz para quase tudo. Não há culpa, direito a réplica ou quaisquer que sejam as ironias bonitas e veladas que se queira dar a isso. Há um certo encantamento pela tragédia, um sabor a mais que existe em presenciar eventos que correm por fora da cerca mecanicamente insensível do dia de calor cansado e pedado. Há uma diária e hereditária ignorância anunciada. Rendeu conversa com pão, hábito velho, frase nova e crônica apaixonada e deliciosa, de lama cotidiana..
Jailson júnior - Filtro de Lama
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