A fisiculturista Gracyanne Barbosa contou recentemente em seu perfil no Snapchat como sua prisão de ventre desencadeou um episódio no mínimo inusitado, com direito a ligação para a polícia por “tentativa de sequestro”. Ao narrar a história, a modelo disse que estava sem fazer cocô havia oito dias –algo corriqueiro em sua vida, segundo ela.
A prisão de ventre, também conhecida como intestino preso ou constipação intestinal, é caracterizada por menos de três evacuações por semana, pouco volume, muito esforço e fezes de calibre fino e endurecidas. Acontece quando há uma lentidão nos movimentos peristálticos do intestino, responsáveis por empurrar o bolo fecal do intestino grosso até o reto para ser eliminado.
Cerca de 15% da população brasileira sofre com ela, especialmente as mulheres, por causa de alterações hormonais, gestações e menstruação.
Em 85% dos casos, ela é fruto de uma alimentação inadequada (rica em açúcar, farinha refinada e gordura e pobre em fibras) e da pouca ingestão de líquidos, principalmente água.
Uma boa hidratação aliada a exercícios físicos e uma alimentação equilibrada são as principais ferramentas para evitar a prisão de ventre.
Sendo um problema tão corriqueiro, é comum que dúvidas deem origem a vários mitos sobre o assunto. Veja, a seguir, o que é verdade e o que não passa de crença.
Mito ou verdade?
É preciso evacuar todos os dias
Mito. Não existe uma regra, vai de cada organismo. Os especialistas, porém, consideram ideal é ir ao menos três vezes por semana. O normal é que seja sem esforços exagerados e por tempo prolongado, diz a proctologista Sonia Yusuf, do Hospital Santa Cruz (SP).
Intestino preguiçoso atrapalha
Verdade. As fezes chegam ao intestino grosso com até 90% de água. A parede muscular do intestino faz movimentos (peristálticos) para absorver a água e compactar essa pasta. Em seguida, a massa é empurrada em direção ao reto, para ser eliminada. Quando os movimentos estão lentos, muita água é absorvida e as fezes ficam secas e endurecidas, levando à constipação.
Prisão de ventre é genética
Mito. “Não existem estudos que indiquem que há ligação genética. Mas pessoas da mesma família, geralmente, têm costumes e hábitos alimentares parecidos, o que pode influenciar”, explica o ginecologista Ricardo Luba.
Comer fibras ajuda
Verdade. As fibras dissolvem-se na água tornado-se macias e pastosas, ajudam a compor o bolo fecal e retêm mais água. Sem elas, as fezes ficam duras e secas. Verduras, frutas, aveia, linhaça, chia, oleaginosas e alimentos ricos em gordura boa (como óleo de coco e abacate) ajudam. “Tente tomar 10 copos de água por dia e evite alimentos processados, empanados e fritos, fast food e comida cheia de açúcar e farinha refinada”, receita a nutricionista Carolina Novaes.
Álcool e café pioram o quadro
Verdade. Os líquidos adicionam água ao intestino e incrementam o bolo fecal, facilitando os movimentos peristálticos, responsáveis por conduzir as fezes até a saída. Mas bebidas alcoólicas e com cafeína têm efeito desidratante.
Ficar muito tempo sentado causa prisão de ventre
Verdade. Sedentarismo, ansiedade, depressão, o hábito de adiar a ida ao banheiro e alguns medicamentos (como suplementos de ferro) também podem colaborar para a alteração ou piora do funcionamento do intestino.
Segurar a vontade prejudica
Verdade. Ignorar a vontade de evacuar contribui para que o movimento do intestino fique mais lento. A ida ao banheiro deve ser estimulada também fora de casa. “Não ter o hábito prejudica o funcionamento do intestino. Com a correria, muitas pessoas simplesmente esquecem de ir ao banheiro”, diz o coloproctologista Sergio Nahas
Mulheres sofrem mais de constipação
Verdade. As alterações hormonais decorrentes da menstruação e gravidez influenciam. O aumento da progesterona no período de ovulação (e um pouco antes dele) faz os movimentos do intestino diminuírem –durante a menstruação, com a queda da progesterona, o intestino costuma voltar a funcionar. “A retenção de água e a aversão de usar banheiro fora de casa também contribui para que mulheres tenham o intestino mais preguiçoso”, explica Luba.
É comum grávidas com intestino preso
Verdade. Durante a gravidez, cerca de 40% das gestantes ficam constipadas por causa das alterações hormonais e pela compressão que o útero (agora aumentado) faz sobre o intestino grosso.
Prisão de ventre causa mau humor
Parcialmente verdade. Pesquisa da Federação Brasileira de Gastroenterologia feita em 2012 com mais de 3.000 mulheres apontou que para 69% delas o mau funcionamento do intestino influenciava no humor. Para metade, a constipação causava cansaço e perda de concentração. Mas não existem estudos que comprovem a ação do intestino preso sobre o cérebro. “Quando o intestino funciona, a pessoa fica mais saudável e, consequentemente, mais disposta”, diz Luba.
Apele para o laxante
Mito. Quando usados com frequência, eles fazem com que o intestino grosso fique dependente dos laxantes para fazer os movimentos peristálticos. Com o tempo, eles podem danificar as células nervosas da parede do intestino, interferindo na sua capacidade de contração.
Idosos sofrem mais com intestino preso
Verdade. Com o passar dos anos, há uma redução do metabolismo, impactando diretamente nas atividades do intestino grosso e no tônus muscular.
Fezes devem ser marrom
Verdade. A cor marrom é provocada pela estercobilina, pigmento escuro formado na digestão da bile. Quanto mais tempo as fezes ficam “presas”, mais escuro elas saem. Fezes cinzas podem indicar problemas no fígado, vermelhas podem sinalizar sangramento e verdes, infecções, por exemplo.
Maçã e goiaba prendem o intestino
Parcialmente verdade. A casca da maça ajuda a soltar, enquanto a polpa tem efeito contrário. Por causa de seus fitoquímicos, a goiaba também ajuda a reduzir os movimentos do intestino.
Ameixa e mamão ajudam a “soltar o intestino”
Verdade. As receitas das avós ajudam o intestino a funcionar melhor. “A ameixa preta é uma fruta com altíssimo teor de fibras e possui ácido diidroxifenil isatina, que facilita a atividade intestinal”, explica a nutricionista. Já o mamão tem grande quantidade da enzima papaína, que ajuda o organismo a digerir mais rápido, diminuindo o tempo de armazenamento do bolo fecal.
Viagens influenciam
Verdade. Muitas pessoas não conseguem ir ao banheiro fora de casa ou ignoram a vontade de evacuar. Isso pode contribuir para que o movimento do intestino fique mais lento. A ida ao banheiro deve ser estimulada, inclusive, fora de casa. “Deixar de ter o hábito de ir ao banheiro prejudica o funcionamento do intestino, deixando-o ainda mais preguiçoso”, diz Nahas.
Fonte: UOL
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