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Artigo | Muita gente está no caldo de pinto - Pádua Marques

Minha mãe, cuja sabedoria de vez em quando eu vou buscar pras minhas reflexões, era de dizer que quando alguém estava em apuros, numa, como se dizia, peinha de nada, assim, mais pra lá do que pra cá, esta pessoa de tanto já imaginar uma derrota ou um sofrimento estava no caldo de pinto. Caldo de pinto é uma canja, muito rala, com pouco arroz, insossa, feita com a carne de uma franguinha de primeira pena que nos tempos de antigamente se dava às mulheres paridas logo nos ditos primeiros dias de resguardo.

Pois é como devem estar se sentindo a essa altura muitos políticos, empresários e lideranças sindicais. Correndo pra Farmácia Rodoviária atrás de um analgésico ou de algum remédio pros nervos muitos políticos brasileiros e especialmente do Nordeste, tendo o Piauí bem no meio, depois daquela prisão dos dois ex-governadores do Rio de Janeiro, um que atende pelo apelido de Garotinho e o outro, Sérgio Cabral. 

Os dois andaram pegando no que é alheio e foram tirados de debaixo dos panos pelos meninos da Polícia Federal ainda com as galinhas no poleiro. Em tempo recente encheram a burra com desvios e mais desvios do dinheiro público e de operações fraudulentas com o objetivo de conseguirem, no caso de Garotinho, votos de eleitores. 

E nem se envergonhavam de se deixarem registrar por câmeras de vídeo dando risadas em restaurantes de primeira linha, em compras de joias, viagens internacionais e exibindo tudo do bom e do melhor e que o dinheiro dos outros pode pagar.

E todo mundo viu aquela presepada de Garotinho esperneando em cima de uma maca feito um menino com medo de tomar injeção na bunda. Que cena mais deprimente pra um sujeito de sua igualha. O outro, Sérgio Cabral, filho de um grande jornalista, um dos maiores estudiosos da música popular brasileira, ao que parece tem consciência das besteiras que fez. Garotinho não. Ao que parece e pelo que andou aprontando não se emenda mesmo. 
 



Eu até já havia me esquecido dele e da mulher, a Rosinha, que bem poderia ser a encarnação da personagem companheira do Zé Carioca. Os dois e a filha fazendo aquele papelão, aquele espetáculo ridículo na porta de um hospital. Ele gritando e pedindo por tudo quanto era santo que não o deixassem ir pro presídio, pois tinha medo de morrer nas mãos de traficantes que ele quando governador mandou pra lá. E elas dizendo pra todo mundo que ele não era bandido. Se ele não é bandido, ele é o quê?

Aqui pelo Piauí depois daquela operação toda no Rio de Janeiro e da Lava Jato tem gente que nem dorme mais em casa ou ainda nem voltou pra casa. Tem gente escarrerada por esse interior, na casa de parentes que há muitos e muitos anos nem passava perto. No Piauí tem gente que se não fumava, agora se danou a fumar feito um caipora. Tanto é o medo de ser preso assim de uma hora pra outra e sem tempo de vestir a cueca de bola. 

Tem gente por aqui neste Piauí que não pode ouvir a sirene do Samu que já está molhando o fundo das calças.Tem gente mandando a mulher na feira de domingo comprar umas franguinhas de primeira pena pra tomar um caldo à noite. Só assim está conseguindo dormir. Suco de maracujá é a água que tem tomado.

*Padua Marques - Escritor e Jornalista

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