Com dúvidas ainda se deve aceitar convite para entrar no governo federal, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu deixar para quarta-feira (16) a decisão de assumir um cargo na Esplanada dos Ministérios.
A reportagem apurou que Lula está mais propenso a aceitar o cargo, mas resolveu conversar ainda na madrugada desta quarta (16) com petistas e peemedebistas para ajudá-lo a tomar uma decisão.
No final do encontro com Dilma Rousseff, que durou mais de quatro horas, ele garantiu que dará uma resposta em café da manhã com a presidente marcado para a manhã desta quarta noPalácio da Alvorada.
Um ministro chegou a dizer que tem 90% de chance de Lula aceitar o convite e ele poderá ir ou para a Secretaria de Governo ou para a Casa Civil, esta última com mais chances de abrigar o ex-presidente.
Ao sair de São Paulo, na tarde desta terça-feira (15), Lula estava em dúvida em aceitar o convite, mas diante do apelo da presidente que era importante a sua presença para enfrentar a crise, o ex-presidente passou a avaliar a possibilidade de entrar no governo.
Segundo relatos, ele demonstrou incerteza diante da avaliação de que o PMDB não garantia apoio ao governo federal com sua nomeação para a Secretaria de Governo. Nas palavras do petista, é necessário construir um consenso com o partido aliado antes de sua entrada, se não ele pode se tornar um "elemento de desestabilização".
"Não vou entrar no governo a qualquer custo", desabafou.
Também pesou para a incerteza o fato de que sua família não ficaria protegida de um pedido de prisão do juiz Sergio Moro como ele e a maioria da população poderia criticá-lo por estar querendo fugir da Justiça.
A entrada de Lula é vista no governo federal como a salvação da presidente, mas é avaliada com preocupação pelo mercado.
Antes mesmo da chegada do petista a Brasília, no final da tarde desta terça-feira (15), a presidente já havia se antecipado e avisado um pouco antes ao ministro Ricardo Berzoini que Lula deveria ir para seu lugar, na Secretaria de Governo. A pasta é a responsável, hoje, pela articulação política do governo.
Na reunião com Dilma, o petista impôs algumas condições caso decida entrar no governo: autonomia na articulação política com a base aliada e mudanças na política econômica para garantir a retomada do crescimento.
Esta última condição que seria apresentada por Lula preocupa não só o mercado como interlocutores do ex-presidente no empresariado pelo receio de demandar medidas como venda de reservas internacionais, queda forçada dos juros e liberação de mais crédito na economia.
O fechamento do mercado nesta terça já refletiu esta preocupação. O dólar subiu 3%, a maior alta em cinco meses, fechando em R$ 3,764. Já A Bolsa de Valores registrou forte queda, de 3,56%.
O governo e amigos de Lula defendem a entrada do ex-presidente no governo sob o argumento de que ele poderá evitar a aprovação da abertura de um processo de impeachment na Câmara, evitando a queda de Dilma.
Já a oposição ataca a medida dizendo que seu objetivo é dar foro privilegiado ao ex-presidente e, com isso, evitar que ele seja preso.
Tucanos e democratas dizem que Lula está fugindo do juiz Sergio Moro, para quem foi transferida decisão do pedido de prisão feito pelo Ministério Público de São Paulo por suspeitas de favorecimentos no sítio de Atibaia e do tríplex do Guarujá.
Assessores de Dilma reconhecem que o governo e o ex-presidente serão criticados pela sua entrada no ministério, mas afirmam que o benefício final, evitar a abertura do impeachment, compensa o desgaste político.
Na equipe da presidente, a única dúvida sobre uma resposta positiva nesta terça do ex-presidente passava pela homologação da delação do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) feita pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
A princípio, o governo avaliou que a informação, incluída na delação, de que o ministro Aloizio Mercadante (Educação) teria tentado comprar o silêncio do senador, poderia suspender a vinda de Lula para o ministério.
Depois de ter acesso à homologação e ao áudio da conversa entre Mercadante e um assessor de Delcídio, o Palácio do Planalto chegou à conclusão de que o caso não "era a bomba que todo mundo estava falando" e que não seria como impedimento para Lula aceitar o convite.
Informações do Diário do Nordeste
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