Na minha infância ouvi relatos de dois fantásticos contadores de histórias, contados por um amigo nosso de nome Sued Leal, lá no bairro de Fátima. Naquele tempo as crianças gostavam de ouvir histórias dos mais velhos. Ficavam horas e mais horas ouvindo histórias de Trancoso e da Moura Torta, adivinhações e as chamadas histórias de Camões, mas acabavam mesmo era nas histórias de macaco, muito mais engraçadas e picantes. Eram muitas delas histórias sem pé nem cabeça, mas interessantes pra nossa formação de meninos.
Não era essa coisa de hoje que a pedagogia moderna tomou de conta achando que está fazendo alguma coisa extraordinária. Pois muito bem. Esses dois contadores de histórias, Raimundo Pema e Joaquinzinho podem até não terem existido de carne e osso, mas até hoje é neles que vou buscar inspiração pra contar minhas histórias.
Conta a lenda e o talento de Raimundo Pema, que no reino dos animais o jacaré resolveu num desses dias de grande calor comemorar seu aniversário. E convidou amigos, colegas, conhecidos, parentes de todos os continentes, como a lagartixa, o velho calango, mais conhecido no Piauí pelo apelido de carambolo, o camaleão, o tejo, aquele outro lá da África, o crocodilo e outros tantos que agora não me recordo, mas apenas tenho de feição. Pois sim.
Marcado o dia, hora e lugar da festa, começaram a chegar os convidados. Mas o jacaré não se deu conta de que alguns de seus convidados, principalmente os parentes, tinham um rabo bem grande. Fosse a festa somente pra eles seriam necessário duas salas e meio separadas. Os convidados pequenos e que chegaram à frente se deram bem nas acomodações. Mas os parentes do jacaré, principalmente aqueles maiores e mais pesados foram ficando de fora. E foi chegando e foi chegando mais.
Passado um tempo e com todo aquele terror de sol nos couros e vendo que ninguém tomava uma providência muitos deles começaram um, como vamos dizer, arranca rabo. Foi confusão das grandes. E um siribolo dos infernos de uns querendo morder os outros e dando rabanadas pra tudo que era lado. Cangapé e cipoada foi o que não faltou e no fim tiveram que chamar a polícia da floresta pra ordenar um cessar fogo, desapartar aquela briga desgraçada e registrar boletim de ocorrência de todo mundo enquanto o Samu levava os feridos pro Dirceu de lá. Era tanto ferido que a barca do sal se tivesse funcionando não daria conta.
Tirando os jacarés da fábula de Raimundo Pema, foi o que aconteceu parecido na Parnaíba nessa passada quarta-feira dia 12 de novembro por ocasião da abertura do VI Salão do Livro de Parnaíba, o SALIPA. O evento tinha como convidado o cantor, compositor e escritor Gabriel, o Pensador. Mas pra ser mais curto com as explicações devo dizer que muita gente pra pouco espaço naquele sovaco do Porto das Barcas. Me contaram que havia três vezes mais gente fora querendo entrar do que os de lá de dentro já querendo sair.
E por pouco não acaba em confusão feito aquela do aniversário do jacaré. Mas não é por falta de aviso. Faz tempo que eu e outros mais vivemos dizendo pra esse pessoal cabeça oca que aquele negócio ali não é coisa que se apresente mais nada de vulto. Faz tempos que a gente vem dizendo que esta Parnaíba, onde todo santo dia tem evento de pequeno, médio e grande porte, já deveria ter um centro de convenções.
Todo que é santo dia na Parnaíba tem simpósio, seminários, fóruns, formaturas de cursos de graduação, encontros disso e daquilo, enfim, ajuntamento de gente pra alguma coisa. Mesmo que depois não dê em nada. Mas tem todo dia. Agora fica essa rolha, esse toco de sabugo de milho dificultando tudo porque não se destina um lugar decente pra eventos de importância. O Porto das Barcas, eu vou ser sincero, já deu o que tinha de dar. Virou uma lagoa de jacaré.
*Pádua Marques - Escritor e Jornalista
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