O deputado Marcelo Castro, agora ministro da Saúde, acaba de, como dizia mãe Mina, encontrar a forma do pé. Nesse remendo velho feito em pano mais velho ainda pela presidente Dilma Rousseff, na chamada reforma ministerial, coube ao piauiense ficar segurando a parte mais espinhenta do abacaxi. Não queira saber o que é ser a uma altura dessas, ministro da presidente petista e mais ainda da área que cuida da atenção à saúde de milhões de brasileiros e aquela que mais dá dor de cabeça. Ainda bem que ele é psiquiatra e sabe tratar com doidos.
Dou por vista o ministro Marcelo Castro dentro de mais alguns dias com toda aquela situação de, ao chegar pra mais um dia de trabalho e aporrinhação se deparar com uma fila interminável de gente à porta de seu gabinete. Nem faça ele mais perguntas à secretária, pois certamente desta fila de, vamos dizer uns duzentos pra serem atendidos, duzentos e dez devem ser de gente do Piauí. Gente conterrânea sua e que agora sabendo que o ministro tem a caneta cheia de tinta, pode fazer e acontecer, casar e batizar a qualquer hora do dia ou da noite. Não é assim não!
A essa altura do acontecido já devem estar saindo de tudo que é buraco nos confins do São Raimundo Nonato, Picos, Bom Jesus, Corrente e até na fronteira do Piauí com a Bahia, Tocantins, Pernambuco, Ceará e do Maranhão, caravanas e mais caravanas de prefeitos e secretários pra ver se, numa primeira oportunidade, naquele tempo que o ministro der uma saidinha do gabinete pra ir ao banheiro, dar uma palavrinha com ele. Apertar a mão dele. Mal o ministro abotoa a braguilha!
Imagino a fila na entrada do gabinete de Marcelo Castro. Pedidos e mais pedidos vão chover mais que qualquer outra coisa. Mais que aqueles poços jorrantes lá da terra da família dele em Cristino Castro. Este veio pedir verba pra comprar uma ambulância. Aquele mais na frente veio pedir verba pra equipar um posto de saúde.
Aquele outro não veio pedir nada, mas trouxe dentro de uma sacola do Armazém Paraíba, um agrado pro conterrâneo agora importante: umas petas de goma feitas com banha de porco, um chapéu de vaqueiro e mais um quilo de doce de buriti e um pedaço de queijo de coalho.
E também vão aparecer aqueles prefeitos e secretários que vêm somente pra bater no ombro do ministro e tirar um retrato pra, de volta às suas cidades mostrarem pra Deus e o mundo que o ministro é parente ou amigo de muitos e muitos anos. Essa foto vai ser colocada na moldura e ficar em cima da mesa do gabinete na prefeitura! Outro vem com a mulher e umas duas filhas com segundas intenções, pedir uma colocação pras meninas. Outro vem dar uma olhada e usufruir, embora por alguns minutos, do ar condicionado do gabinete.
E tem aquele prefeito ou secretário que vem só pra ser besta. E aquele presidente da Câmara Municipal que vai vir dizer que o ministro vai ser agraciado com o título de cidadão? Trabalho e muito deve ter mesmo é a coitada da secretária de Marcelo Castro, ter agora de passar seu expediente olhando pra toda aquela gente com cara de pidões. Uns tristes, outros mais alegres. Outros e outros mais gaiatos, contadores de piadas pra matar o tempo. Outros, quando tiverem oportunidade vão ligar pra casa e colocar o ministro pra falar com a patroa.
Mais lá no rabo da fila outros até de cócoras. E aquela fila de todo dia e a cada hora crescendo mais. Vão logo dentro de mais alguns dias quebrar o bebedouro e o serviço de café, jogar papel no chão, falar tão alto que deve incomodar a coitada da secretária.
Gente que nunca viu porta de igreja. Porque vai ter prefeito e secretário que vem pra fila e, num descuido de nada da secretária, vai mesmo é encher os bolsos de biscoitos. Vão certamente infestar a porta do gabinete feito carrapatos em couro de boi.
É necessário que estes prefeitos e secretários pidões tenham em mente uma coisa: embora o ministério da Saúde tenha previsto um grande orçamento, isso não quer dizer que deve todinho ser disponibilizado só pro Piauí. Tem os outros. Muita gente deve achar que eu estou exagerando ao descrever o ambiente da entrada do gabinete de Marcelo Castro pros próximos dias. Imagine.
Só quem não conhece essa gente que se mete a administrar municípios pequenos e pobres e depois passa o mandato inteirinho correndo pra Brasília. Mas certamente muitos voltarão decepcionados da porta do gabinete de Marcelo Castro. Nem tudo aquilo que irão buscar ou imaginam receber vai ser assim tão fácil. Não tiro e nem deixo de reconhecer as boas intenções desses prefeitos e secretários não. É pra isso que são eles eleitos de quatro em quatro anos.
* Antonio de Pádua Marques - Jornalista e Escritor
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