No início dessa semana, mais precisamente na segunda-feira, a presidente Dilma Rousseff tentando se livrar das pedradas certeiras da impopularidade, correu pro rumo do Nordeste, mais precisamente o velho, atrasado e miserável Maranhão, pra entregar umas casinhas do programa Minha Casa, Minha Vida e ainda inaugurar um terminal graneleiro no porto do Itaqui.
Este terminal graneleiro vai movimentar toda a carga de soja colhida na produção do continente e exportar pros mercados consumidores dos Estados Unidos, Japão, China, Índia, Caixa Prego e Deus Me Livre. Eu não duvido nadinha se a essa altura nessa carona do porto maranhense alguns produtores piauienses de soja não aproveitem pra colocar no mercado mundial toda a produção de soja e milho do sul do Piauí, dentro daquele quadrado que recebeu o nome de MATOPIBA. Bestas eles se não aproveitarem.
Mas deixemos essa antiga capitania hereditária dos Sarney de lado e vamos tratar agora da vida do vizinho do lado, o Piauí. A gente ficou sabendo que ocorreu um encontro entre o ministro dos Portos, Edinho Araújo com alguns políticos da bancada piauiense em Brasília, mais precisamente os deputados Heráclito Fortes e Silas Freire. Encantoaram o ministro pedindo explicações sobre essa lerdeza, essa conversa de cigano que se abate sobre a questão do porto de Amarração em Luiz Correia.
O ministro, feito outros que mal esquentaram a cadeira, respondeu naquela base do, se virem pra resolver umas pendências havidas com o Tribunal de Contas da União desde o tempo dos dois mandatos de Wellington Dias e o de seu sucessor, Wilson Martins. Estes dois políticos piauienses à época até marcaram data pra atracar o primeiro navio no porto. Pelo visto e pelo tempo passado, este navio que nunca chega, ainda deve estar dando a volta ao mundo. Talvez seja o mesmo que vai trazer o Papai Noel.
É até aborrecido a esta hora da manhã ou da noite se falar ainda nessa lorota de porto pra o Piauí. Esta história é mais comprida que cantiga de grilo na beira da lagoa do Bebedouro. Agora, bonito pra nossa cara. Tudo aquilo que se produz no sul do Piauí acaba saindo por um porto alheio.
Feito aquele vizinho desleixado que não tem responsabilidade com a família e acaba toda hora a senhora dele na nossa porta ocupando com isso e mais aquilo. Hoje uma colher de café, amanhã, açúcar, um pedaço de sabão, um palito de fósforo mais adiante. E a coisa vai sempre ficando pra quando Deus quiser.
Me lembro de uma observação feita pelo jornalista Tomás Teixeira, de Teresina, nessa semana passada. A de que a imprensa da capital do Piauí, principalmente essa de televisão, passa o dia e a noite com a bunda sentada discutindo e falando única e exclusivamente de eleição, sobre quem vai e quem vai deixar de concorrer à prefeitura ou composições na Câmara dos Vereadores, de que cor é a camisa de Firmino Filho, quando que vai sair o nome do sucessor de Wellington Dias, onde Sílvio Mendes passa os finais de semana, os destemperos de Robert Rios. Essas coisas tão bestas e que não interessam ao cidadão comum. Essa mesma imprensa sem criatividade não tem, ao que parece, conhecimento do poder que deveria ter pra cobrar da bancada piauiense na Câmara dos Deputados definições pra esta questão do porto e outras que ainda estão na conversa.
Mas voltando pra história do porto e o desenvolvimento pleno do Piauí, esse caco de vidro dentro da lagoa da Prata, esse fio desencapado e caído na frente do Hotel Delta, esse pedaço de rolha de cortiça no gargalo da garrafa de azeite, esse bicho morto na estrada daqui pra Chaval, tudo isso só tem a meu ver uma causa: a ausência de diálogo sério dos empresários piauienses com a classe política. Os políticos piauienses pouco ou quase nada fazem pra aquilo que necessitam os empresários. Aliás, eu desconheço políticos piauienses com mentalidade empresarial. Então vai ser de, o papagaio vai roer o milho e o periquito vai levar a fama.
*Antonio de Pádua Marques - Escritor e Jornalista
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