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Elis Regina: 70 anos da cantora das cantoras

No ano de 1972, os pescadores e a madrugada boêmia da praia do Mucuripe, em Fortaleza, se espraiaram nas ondas do rádio e TV por todo o País, na canção de Fagner e Belchior. A voz, era Elis Regina. Sucesso fulminante já nos anos 1960, Elis, ficou conhecida como a “Pimentinha”, por seu temperamento explosivo, seja ao riso, seja à fúria, competitivo, duro; mas também como uma cantora impecável – que comparava o canto de Milton Nascimento à voz de Deus, quando poderia facilmente ocupar este posto – além de generosa e benquista. 

A gaúcha Elis Regina Carvalho Costa completaria, amanhã, 70 anos de uma vida curta – morta aos 36 anos – e intensa. Seu canto, vivo e insubstituível, permanece em um legado que vai além dos 24 LPs que gravou, transcende sua obra, refletindo em gerações e gerações de artistas, em especial, de cantoras: das que vieram antes, das suas contemporâneas, das jovens musicistas que sequer chegaram a conhecê-la. O Caderno 3 de hoje mergulhou em algumas dessas histórias, de cearenses que tem na Pimentinha uma referência, passeando também por homenagens e lançamentos que ainda respiram seu nome.

Caça talentos

“Elis Regina é uma escola, é uma referência enorme para toda cantora”, define a cantora Mona Gadelha, atual coordenadora de música da Escola Porto Iracema das Artes. Ela guarda ainda viva na memória de fã a chance de assistir ter assistido ao show do disco “Falso Brilhante” (1976), em que Elis cantou outras duas canções de Belchior – ajudando a consolidar de vez a carreira do cearense. O disco era aberto por “Como Nossos Pais” (Belchior) e “Velha Roupa Colorida” (Belchior). “Foi o momento que mais me emocionou”, diz, destacando que entre os méritos da cantora estava justamente sua disponibilidade para ouvir e gravar novos compositores. “Ela tinha a capacidade de tornar qualquer gravação algo antológico”, elogia.

Histórias

Do convívio com Elis, ainda que curto, guardam boas lembranças as cantoras Teti e Amelinha, contemporâneas da Pimentinha em São Paulo, nos anos 1970. “Eu a conheci uma vez que fomos na casa dela. Eu, Rodger Rogério e Clodo. Tocamos uma porção de músicas no violão e ela apaixonou-se por ‘Barco de Cristal’ (de Rodger Rogério, Fausto Nilo e Clodo). Já idealizou um espetáculo musical. Tinha um entusiasmo muito grande”, recorda Teti. A música, apesar do entusiasmo, nunca chegou a ser gravada por Elis. 

Para Teti, a cantora gaúcha “era uma coisa divina”, podendo ser apontada como a maior cantora que o Brasil já teve. “Temos muitas vozes maravilhosas, mas ela foi de uma importância enorme, não só como intérprete, mas pela força que tinha. Ela contribuiu de maneira muito brilhante para o desenvolvimento e a valorização da música”, justifica.

Amelinha também guarda com carinho o contato que teve com Elis Regina. “Eu conheci bem o Rogério (Costa), irmão dela, que trabalhava na produtora Clack, em frente ao Teatro Bandeirantes. Eu vivia muito por ali, no começo da carreira. Foi interessante. Via os ensaios, a montagem do ‘Falso Brilhante’”, recorda Amelinha, muito embora, “ela (Elis) não dava muito papo para mim, não”. 

Para a cearense, Elis deu “papo” apenas musicalmente, ao ouvir seu LP de estreia, “Flor da Paisagem” (1977). “Ela pegou um disco que eu tinha dedicado ao Roberto de Oliveira, diretor da Clack e levou para casa. Ouviu, gostou, e disse para ele. Depois vim a saber disso através dos filhos, do Pedro, João Marcelo, que ela elogiou meu disco”, lembra. “Meu lance era de respeito e admiração, mas nunca tentei imitar. Eu achava bacana, a determinação dela”, reforça Amelinha.

Jovens

Morta em 19 de Janeiro de 1982, Elis é daqueles mitos musicais que permanecem vivos, não importa há quanto tempo deixaram de cantar. Na verdade, ainda ecoam no imaginário das novas gerações. Para Lorena Nunes, cantora que nasceu em 1986, a presença de Elis vem da infância. “Era uma das cantoras prediletas da minha mãe. Eu aprendi a cantar cantando Elis. Como as crianças fazem hoje com a ‘Galinha Pintadinha’, eu ouvia um disco com ‘Fascinação’, ‘Menino das Laranjas’, ‘Cartomante’, várias vezes e cantando junto”, lembra. 

A admiração pela cantora o acompanhou durante toda sua formação, tendo culminado em 2012 com um show em tributo a Elis, lembrando 30 anos de sua morte. Lorena, tinha apenas 26. “Tem algumas referencias musicais que são pai e mãe. Você pega a bênção e faz sua história. Tem coisa do seu pai e da sua mãe no que você faz que você nem percebe”, reforça, sobre a presença da cantora, uma espécie de “mãe” musical. 

Fábio Marques
Repórter do Diário do Nordeste


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