Em homenagem ao poeta maranhense Ferreira Gullar que, ontem (09) foi eleito o novo imortal da ABL (Academia Brasileira de Letras), apresentaremos em nossa série "Livro de Sexta" a análise da obra "Poema Sujo" feita pela professora Keyla Pinheiro:
O AUTOR
Em 1970, Ferreira Gullar é
obrigado a deixar o Brasil, vivendo em várias cidades, foi em Buenos
Aires, que o poeta escreveu em 1975 entre maio e outubro o “Poema Sujo”
que foi muito bem acolhido pelos intelectuais.
Eram realizados encontros e foi
na casa de Augusto Boal, em Buenos Aires, entre grupo de amigos,
liderados por Vinícius de Moraes que conheceram e se apaixonaram pelo
“Poema sujo”, assim Vinícius de Moraes leva o poema para o Rio de
Janeiro escondido em fita-cassete, por razões de segurança.
Já no Brasil Vinícius promove
sessões de audição privada para intelectuais e jornalistas, e o editor
Ênio Silveira resolve publicá-lo no ano seguinte, sem a presença do
poeta, ainda exilado. Esse poema abriu as portas para o seu retorno ao
país, que foi em março de 1977.
OS CRÍTICOS
A crítica foi benevolente com o poema, segundo:
Vinícius de Moraes, esse “é o mais importante poema escrito em qualquer língua nas últimas décadas”;
Otto Maria Carpeaux considera-o
um “poema nacional”, uma verdadeira “encarnação do exílio”, trazendo
todas as experiências, vitórias, derrotas e esperanças de vida do homem
brasileiro.
Clarice Lispector classifica-o de “escandalosamente belíssimo”.
A PROPÓSITO DO TÍTULO
Afirmou:
Luiz Carlos Junqueira Maciel:
Diz que Ferreira Gullar afirma
que o título “... é porque eu pego o que tem de escuro, de sujo, as
cadeiras velhas, os armários velhos, e coloco uma luz. Vou até embaixo,
no fundo, e subo trazendo tudo junto: o que é poesia e o que não é
poesia”.
Maria Zaira Turchi:
Ao questionar o título do “Poema
sujo”, indaga se esse adjetivo teria a mesma conotação de pornográfico,
imoral, contrário às normas tradicionais de boas maneiras. Ma o “Sujo”
não se localiza nos palavrões, nas tiradas eróticas;
O sujo está na miséria, na fome,
na obscena divisão de classes. O sujo está inserido no tempo da
enunciação do texto: anos 70, ditadura militar, milagre econômico a
enriquecer uma minoria, tortura e censura obscurecendo o país, o poeta
exilado, em sua vida clandestina, prestes a ser preso ou fuzilado a
qualquer momento;
O “Poema sujo” é um painel-memorial onde se acham acontecimentos tristvida até aquele momento.
É “Poema sujo”, por não seguir
as regras poéticas de métrica, rima, palavras adequadas e vocabulário.
Há gírias, palavrões e, até mesmo, obscenidades na linguagem. Ainda pode
ser “Poema sujo” por ser de um autor perseguido na época, contrário ao
regime do seu tempo de rapaz.
O ESTILO DA ÉPOCA
Gullar afirma que suas obras são
fruto de reflexões sobre os acontecimentos, a vida e as pessoas,
escrita com coerência. O “Poema sujo”, que é seu livro mais conhecido
internacionalmente, já foi publicado na Alemanha, Espanha, Colômbia e
EUA, é considerado a obra mais ousada de Ferreira Gullar.
Esta obra como diz o autor, é uma obra que traz uma reflexão vigorosa e penetrante sobre a infância e o resgate.
O poeta escreveu as cinco primeiras laudas em um só fôlego:
“Ao terminá-las, sabia de tudo:
que o poema ia ter por volta de cem páginas, que teria vários movimentos
como uma sinfonia e que se chamaria “Poema sujo”. Hoje, ao refletir
sobre aqueles momentos, estou certo de que o poema me salvou: quando a
vida parecia não ter sentido e todas as perspectivas estavam fechadas,
invente, através dele, outro destino.”
Fonte: Keyla Pinheiro
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