Boa quinta-feira a todos. Em nossa "Poesia de Quinta" apresentaremos o poema "Agora, ó José" da poetisa Adélia Prado.
O poema estabelece uma relação com o poema de Carlos Drummond de Andrade
“E agora José”, porém com a presença de elementos opostos da obra
original. Na obra abaixo o personagem é visto de uma forma mais suave,
ele agora já tem onde se encostar, duro agora é a sua paciência. Possui
uma mulher, o que ele não tem na obra de Drummond, antes ele marchava
agora ele passeia no quarteirão. Na obra em comparação a solução para a
situação difícil de José era a morte, já no poema em questão a vida é a
salvação. “No meio do caminho tinha uma pedra", “Tu és pedra e sobre esta
pedra", a pedra é um obstáculo, mas o protagonista é maior que essa
pedra, essa pedra é algo que o atormenta, e sua fé o estimula a
resistir, deitar e dormir com sua esposa, girar um “lago de ferro”
pesadíssimo. “O reino do céu é semelhante a um homem como você, José”.
Agora, ó José
É teu destino, ó José,
a esta hora da tarde,
se encostar na parede,
as mãos para trás.
Teu paletó abotoado
de outro frio te guarda,
enfeita com três botões
tua paciência dura.
A mulher que tens, tão histérica,
tão histórica, desanima.
Mas, ó José, o que fazes?
Passeias no quarteirão
o teu passeio maneiro
e olhas assim e pensas,
o modo de olhar tão pálido.
Por improvável não conta
O que tu sentes, José?
O que te salva da vida
é a vida mesma, ó José,
e o que sobre ela está escrito
a rogo de tua fé:
“No meio do caminho tinha uma pedra”
“Tu és pedra e sobre esta pedra”.
A pedra, ó José, a pedra.
Resiste, ó José. Deita, José,
Dorme com tua mulher,
gira a aldraba de ferro pesadíssima.
O reino do céu é semelhante a um homem
como você, José.
se encostar na parede,
as mãos para trás.
Teu paletó abotoado
de outro frio te guarda,
enfeita com três botões
tua paciência dura.
A mulher que tens, tão histérica,
tão histórica, desanima.
Mas, ó José, o que fazes?
Passeias no quarteirão
o teu passeio maneiro
e olhas assim e pensas,
o modo de olhar tão pálido.
Por improvável não conta
O que tu sentes, José?
O que te salva da vida
é a vida mesma, ó José,
e o que sobre ela está escrito
a rogo de tua fé:
“No meio do caminho tinha uma pedra”
“Tu és pedra e sobre esta pedra”.
A pedra, ó José, a pedra.
Resiste, ó José. Deita, José,
Dorme com tua mulher,
gira a aldraba de ferro pesadíssima.
O reino do céu é semelhante a um homem
como você, José.
( poema de Adélia Prado ) (Do livro Bagagem. São Paulo: Siciliano, 1993. p. 34)
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