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Crônica | Anjo da Morte

Foi amor a primeira vista. Reluzente como um anjo, ela sorriu ao vê-lo. Tinha um brilho rubro como os lábios das mulheres do Bairro da Luz Vermelha. Seu movimento ludibriante imitava o dançar das meninas do Moulin Rouge. Entretanto, possuía a frieza típica de um serial killer.

Juntou dinheiro, deu entrada e parcelou o restante em vinte vezes. Comprou sua assassina em uma manhã fria de janeiro. Mal sabia ele que esta seria sua última amante, seu amor derradeiro e o mais profano.

Enamoraram-se durante meses numa paixão efervescida, comum em recém-casados. Desbravaram a rotina e ingeriram estradas, rodovias, ruas ... Onde um estava o outro se fazia presente. Galoparam mundo afora, era um Dom Quixote em seu Rocinante. De tanta convivência, um era complemento do outro, apesar da apatia dela 

Era uma tarde quente de julho quando saíram para seu último passeio. Ele feliz, ela fria. Ela o excitou e ele concordou com a provocação e ambos voaram sobre o asfalto... No segundo semáforo da avenida "xis", ela inexplicavelmente, o lançou a um poste. Foi seu último contato... Seu último adeus.

Ela a vinte metros dele permanecia fria, indiferente como um psicopata a observar o último suspiro de sua vítima. Assassina.

Marcello Silva, Parnaíba 2014.


P.S.:  Os acidentes com motos deixaram quase 120 mil jovens inválidos no Brasil, só nos três primeiros meses deste ano. 74% das indenizações pagas pelo seguro obrigatório por morte ou invalidez permanente foram para vítimas de acidentes com motos e o Nordeste lidera esta lista. Mais de 50% (52%) dessas pessoas são jovens, com idade entre 18 anos e 34 anos.
FONTE: G1

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