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Poesia de Quinta | Vou-me Embora pra Pasárgada

Bom dia caros leitores. Manoel Bandeira, antes de ir à Pasárgada, faz escala em nossa "Poesia de Quinta" com o poema " Vou-me Embora pra Pasárgada". 

O que Bandeira disse sobre o poema: "... foi o poema de mais longa gestação em toda minha obra. Vi pela primeira vez esse nome de Pasárgada quando tinha os meus dezesseis anos e foi num autor grego. [...] ... Mais de vinte anos depois, quando eu morava só na minha casa da Rua do Curvelo, num momento de fundo desânimo, da mais aguda doença, saltou-me de súbito do subconsciente esse grito estapafúrdio: “Vou-me embora pra Pasárgada!”. Senti na redondilha a primeira célula de um poema [...]

A análise a seguir é Maurício Cardoso Garcia: "O poema: Vou-me embora pra Pasárgada, refere-se a um vindouro distante, repleto de coisas novas, uma espécie de modernidade e de eldorado terreal, um sonho, um desejo como fuga da sua realidade melancólica e da solidão proporcionado, às vezes, pela sua doença, isto centrado num saudosismo e num erotismo, que no poema se insere como um refrão em redondilha na extensão de toda a obra, como uma marca da tradição, também conhecido como medida velha, redondilha maior (métrica em sete sílabas poéticas). Sendo Bandeira um poeta modernista que se vale da poesia em versos livres (sem rima, sem pontuação, sem rigor parnasiano, com expressões coloquiais), não hesita em construir sua obra por essa linha. Mas também o seu poema tem marcas de coisas passadas e da tradição mais antiga, onde remete a sua infância, o seu pretérito mais remoto quando fala das estórias de Trancoso quando chama a mãe-d’água e quando se refere ao pau-de-sebo. A figura da pessoa Manuel Bandeira, se pararmos para refletir, a sua vida em si foi um misto de tradição e modernidade, pois sendo ele poeta moderno, passou a vida inteira com uma doença, a tuberculose,  que era marca crucial na vida dos poetas do Romantismo, os quais morriam dessa mesma doença ainda muito jovens, entre 19 e 21 anos de idade, mas Bandeira como autêntico Modernista ultrapassou a casa dos oitenta anos de idade.  Pasárgada também se trata de um lugar existente, real e possível para se viver, ou seja:

Pasárgada é uma cidade da antiga Pérsia e é atualmente um sítio arqueológico na província de Fars, no Irã, situado 87 km a nordeste de Persépolis. Foi a primeira capital da Pérsia Aqueménida, no tempo de Ciro II da Pérsia, e coexistiu com as demais, dado que era costume persa manter várias capitais em simultâneo, em função da vastidão do seu império

Bandeira mostra em seu poema a vida como ela é: cheia de contradição, paradoxo, ironia e sem nenhuma linearidade como muitas vezes se exige que ela seja."

Vou-me Embora pra Pasárgada (Manuel Bandeira)

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei


Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive


E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada


Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar


E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.



Fonte: Revista Bula / Recanto das Letras

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