Recent Tube

Artigo | Um elogio aos curiosos - Fabrício Carpinejar

Nem humildade, nem ambição: curiosidade.
A curiosidade é humildade e ambição ao mesmo tempo.
Na curiosidade, temos humildade para aprender e ambição para não desistir de buscar.
É uma perfeita medida. Os estados de espírito terminam moderados, neutralizados.
A curiosidade freia que a pessoa seja megalomaníaca e também inibe que seja uma pobre coitada.
O problema do humilde é que ele quer ser santo, o problema do ambicioso é que ele quer ser rei. A curiosidade escapa desses dois extremos da ganância.
O curioso é apenas curioso. Não pode ser mais do que curioso. Está protegido da fama e da doença do excesso.
Ele é um insistente, um incansável. Não fica reclamando, vai perguntando e correndo atrás para descobrir o que falta.
Ele é menor para que a vida se torne maior. Ele é discreto para que suas descobertas produzam visibilidade.
Ele faz perguntas idiotas para gerar respostas inteligentes.
Ele não tem vergonha das suas dúvidas, sempre desconfia que tem mais a saber.
Ele não mentirá (o mentiroso é um ansioso), já que prefere desvendar a verdade.
Ele é independente, enfrenta a banalidade e a complexidade com desembaraço, acolhe o óbvio e o abstrato com democrática simpatia.
Ele é um interessado intenso. Não finge atenção, é atenção. Está satisfeito com tudo porque completará com sua procura.
Não é acomodado, é observador. Realiza seus desejos com espontaneidade. Como se fossem naturais. Não é espalhafatoso em suas intenções. Conclui antes de anunciar. Ao estudar sobre aviação, é capaz de voar. Ao estudar sobre orquídeas, é capaz de cultivá-las.
Não cria empecilhos para protelar nenhum sonho. Dispensa o esforço da desculpa pelo entusiasmo da interrogação.
O curioso jamais é ingrato. Se recebe um presente, será eufórico, ainda que seja uma lembrança. É fácil de ser agradado. Não repete a mesma área, quer ir além.
Pode ganhar um CD brega de amigo-secreto e irá ouvir com dedicação. Para um dia dizer que ouviu. Para entender o motivo da breguice. Não fará a cena de deboche e de engano que todos realizam quando não são correspondidos com sua idealização.
Não joga nada fora, nenhuma pessoa. Conversa com igual atenção com o zelador, o eletricista, o empresário, a manicure. Questiona sem parar modos diferentes de conduta, tenta entender como aquela personalidade se formou, quais são suas fragilidades e forças. 
Assim desarma seus preconceitos com respeito e intimidade.
Não será melhor do que o outro, pois sempre se melhora com o outro.

Publicado no jornal Zero Hora 
Coluna semanal, p. 4, 13/5/2014
Porto Alegre (RS), Edição N° 17795

Curta a página do Chavalzada no Facebook www.facebook.com/chavalzada
Siga o nosso perfil no Twitter www.twitter.com/chavalzada

Deixe sua opinião nos comentários, nós agradecemos!

Postar um comentário

0 Comentários