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Poesia de Quinta | Os Homens Ocos

De volta com nossa série "Poesia de Quinta" apresento o poema "Os Homens Ocos" de T. S. Eliot. Esse poema é apontado pela revista bula como um dos 10 maiores poemas dos ultimos 200 anos. Segundo Octávio Paz  no poema, portanto, T. S. Eliot mais do que elabora verdades, cria realidades subsidiadas de verdade, ou seja, de sua própria existência.
Neste sentido, a linguagem poética de “Os Homens Ocos” possui uma lógica própria: a de seu poeta, T.S. Eliot. Mas afirma Octavio Paz que “esta verdade estética da imagem só vale dentro do seu próprio universo”. Além disso, para Paz, as imagens do poema “nos dizem algo sobre o mundo e sobre nós mesmos e que esse algo, ainda que pareça um disparate, nos revela de fato o que somos”.
Durante a leitura do poema, assim como na percepção de todas as coisas, encontra-se um sentido. Tal sentido não é apenas fundamentado na linguagem, mas também na apreensão da realidade. Igualmente a nossa percepção da realidade ocorre a percepção da imagem poética, segundo Octavio Paz. Mas de acordo com o autor, este perceber outorga à imagem poética certa unidade: “O verso, a frase-ritmo, evoca, ressuscita, desperta, recria. Ou, como dizia Machado: não representa, mas apresenta. Recria, revive, nossa experiência do real”.
Ao contrário do que ocorre nas frases, em que outra frase é suscetível de explica-la, o sentido da imagem no poema em questão não é outro senão a própria imagem. “A imagem explica-se a si mesma. Nada, exceto ela, pode dizer o que quer dizer”, de acordo com Paz. Neste sentido, T.S. Eliot não quer dizer, diz. Seu poema não é meio, mas sustentam a si mesmos, é o próprio sentido. O sentido de “Os Homens Ocos” é o próprio poema “Os Homens Ocos”.
O poema em análise, portanto, se expressa na experiência poética, isto é, na imagem poética, que se constrói na identificação com a realidade. A imagem “não explica: convida-nos a recriá-la e, literalmente, a revivê-la”. Em vista disto, “Os Homens Ocos”, nas palavras de Octavio Paz, como poesia, convida o homem a “entrar no ser”.

Os Homens Ocos
Nós somos os homens ocos
Os homens empalhados
Uns nos outros amparados
O elmo cheio de nada. Ai de nós!
Nossas vozes dessecadas,
Quando juntos sussurramos,
São quietas e inexpressas
Como o vento na relva seca
Ou pés de ratos sobre cacos
Em nossa adega evaporada
Fôrma sem forma, sombra sem cor
Força paralisada, gesto sem vigor;
Aqueles que atravessaram
De olhos retos, para o outro reino da morte
Nos recordam — se o fazem — não como violentas
Almas danadas, mas apenas
Como os homens ocos
Os homens empalhados.
II
Os olhos que temo encontrar em sonhos
No reino de sonho da morte
Estes não aparecem:
Lá, os olhos são como a lâmina
Do sol nos ossos de uma coluna
Lá, uma árvore brande os ramos
E as vozes estão no frêmito
Do vento que está cantando
Mais distantes e solenes
Que uma estrela agonizante.
Que eu demais não me aproxime
Do reino de sonho da morte
Que eu possa trajar ainda
Esses tácitos disfarces
Pele de rato, plumas de corvo, estacas cruzadas
E comportar-me num campo
Como o vento se comporta
Nem mais um passo
— Não este encontro derradeiro
No reino crepuscular
(Trecho de “Os Homens Ocos”, de T.S. Eliot. Tradução de Ivan Junqueira)
Fonte: Revista Bula / Imagem Corpo
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