por Marcelo e Dinna Silva
Cresci de mãos dadas com a
natureza, entre o rio Ubatuba que passava no meu quintal e as carnaubeiras,
incontáveis, no meu terreiro.
Sou bicho do mato: jaguatirica
que foge caatinga adentro; sou caipora assoviante que assusta os caçadores em
noites escuras; sou tatu-bola adentrando a mãe terra.
Sou parte da caatinga que sofre
com a estiagem. Quando passa nosso período de inverno chega agosto com suas
ventanias fazendo redemoinhos nos pés de Imburana, arrastando folhas e
levantando poeira. Entretanto, basta chegar janeiro com suas chuvas torrenciais
para essa ‘mata branca’ virar uma festa: o verde ressurge com uma soberania
inenarrável e os sabiás, nas moitas de mofumbo, orquestram a sinfonia de cantos
da passarinhada.
Cresci vivenciando esses ciclos,
tomando banho de chuva, pulando no barreiro d’água e soltando ‘barquinhos’ na
grota que desaguava no rio. Cresci escalando os cajueiros, comendo pitombas e
ouvindo o cantar gótico da mãe da lua no alto do pau-d’arco se contrapondo aos
cantares festivos dos xexéus nas ateiras.
Esse é meu recanto. Pedaço do
paraíso. Aqui a felicidade descansa na sombra de um juazeiro e de onde ouve o
sussurro do vento trazendo recados das terras distantes. Esse é meu Éden.
13082012