Trinta novas moléculas, algumas com potencial ação farmacológica, foram descobertas no Instituto Butantan, em São Paulo, durante uma pesquisa que mapeou o conjunto de peptídeos existente no veneno de três espécies de serpentes do gênero Bothrops, entre elas a jararaca, informa a Agência Fapesp.
"O objetivo do trabalho era descrever a complexidade do peptidoma, ou conjunto de peptídeos, presente no veneno das espécies B. jararaca, B. cotiara e B. fonsecai", explica Solange Maria de Toledo Serrano, coordenadora da pesquisa. Peptídeo é qualquer substância com dois ou mais aminoácidos conjugados, exercendo funções específicas no organismo.
Foram sequenciados 44 peptídeos, dos quais 30 ainda eram desconhecidos. Entre as novas moléculas, pelo menos quatro já testadas apresentaram atividade de potenciação da bradicinina e inibição da atividade da enzima conversora de angiotensina, substâncias envolvidas no controle da pressão arterial.
As serpentes do gênero Bothrops são responsáveis por cerca de 90% dos acidentes ofídicos que ocorrem no país, revela o estudo. A grande maioria dos casos envolve a jararaca, comum no país inteiro. Já a B. cotiara está presente apenas nas regiões de mata araucária e a B. fonsecai, na Mata Atlântica.
O primeiro peptídeo potenciador de bradicinina isolado no veneno da jararaca, ainda nos anos 1960, deu origem a toda uma classe de medicamentos anti-hipertensivos à qual pertence, por exemplo, o Captopril. Os resultados do estudo, considerado o mais profundo já realizado sobre peptidomas de venenos de serpentes, foram divulgados em artigo publicado na edição de novembro da revista Molecular & Cellular Proteomics.
UOL