As mãos e os pés
revoltaram-se um dia: “Trabalhamos tanto, estamos em contínuo lidar e tudo é em
proveito do estômago, que aí fica folgado, empregando em vantagem sua quanto
adquirimos. Não estamos mais por isso, queremos folgar, e viva o estômago como
puder.” Admoestações, rogos, instâncias, nada valeu. O estômago ficou em jejum;
mas para logo todo o corpo caiu em debilidade; braços, pernas, pés e mãos foram
dos primeiros a sentir um entorpecimento, uma languidez que os assustou;
compreenderam que iam morrendo; voltaram, pois ao seu antigo ofício, e dentro
em pouco, graças ao condescendente estômago, se acharam restituídos à antiga
robustez.
MORALIDADE:
Todos somos membros de um vasto corpo, que é a sociedade; cada um exerce
funções especiais, mais subidas, mais humildes, porém todas indispensáveis para
a prosperidade e até para a existência de todos.
Fonte: ROCHA,
Justiniano José da. Fábulas (imitadas de
Esopo e La Fontaine)